sábado, 30 de janeiro de 2010

O BÊBADO E O EQUILIBRISTA



“Toma, se vira”, ouviu Ronivaldo há cerca de dois anos, no dia em que recebeu da mãe a Honda 2003 comprada de segunda mão. Carregando porco, bujão de gás, cachorro, caldeirão de milho e galinha, ele segue a recomendação materna: ganha cerca de um salário mínimo como mototaxista na cidade de Euclides da Cunha, 54 mil habitantes, Sertão baiano.“Mas o pior de carregar é bêbado e bode”, conta, à bordo de sua Honda 2003, uma entre as centenas de motocicletas que circulam no município. Equilibrando-se para não machucar moto, cliente e, claro, ele mesmo, Ronivaldo vai em vem pelas ruas sem usar capacete e exposto a situações
para além das pitorescas: também tem gente que sobe na garupa transportando drogas ou que tem como único objetivo roubar o veículo. “Se a polícia pega alguém carregando tóxico, a gente levando, vai todo mundo preso, é como se o motoboy também fosse cúmplice”, conta. O problema é saber o que vai na sacola do cliente.
As corridas, na área urbana, custam R$ 1,50, mas o preço sobe se o destino for outra cidade (como Canudos, perto dali). O sábado, dia de feira, é mais lucrativo, muito embora a insistência do povo em carregar dez sacolas na pobre Honda seja um problema para Ronivaldo. “É melhor pegar a motocarrocinha”, explica,
referindo-se ao veículo disputadíssimo, porque mais raro. Passa mais tempo na labuta do que na época da roça, quando trabalhava com os pais: começava às 7h da manhã e só parava ao meio-dia para almoçar. Voltava às 14h e ficava até umas 17h. Cultivavam feijão, milho, mandioca. Ronivaldo, agora trabalhando o dia todo, sem tempo para almoçar ou namorar, prefere assim. Olha para o caderninho da repórter e faz questão de sublinhar: “Quem planta na roça são eles, eu não.” Entre os rapazes de empresas como a Motogaroto, Motomania e Motovital, Motobelavista e Motocidade, adubar terra e curar planta atacada por bicho é coisa do
passado. Apesar dos bêbados e dos bodes, melhor a jaqueta preta de napa e o capacete.

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